Teresina terça-feira, 12 novembro, 2024

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Suicídio de policiais: Uma análise por Arnaldo Eugênio, Doutor em Antropologia

Coluna Perspectiva por Arnaldo Eugênio, doutor em Antropologia/Foto: Reprodução – Arquivo Pessoal

Ainda hoje, entre muitas pessoas e por diversos motivos, o suicídio é visto como tabu ou tema sensível, evitando-se uma abordagem compreensível e menos estigmatizante. Porém, o ideal é um debate público e objetivo para produzir conhecimentos sistematizados. Pois, não sabemos nada e estamos num contínuo processo de aprendizagem em sociedade.

Em um caso específico, segundo os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024), a taxa de suicídio entre policiais civis e militares da ativa cresceu 26,2%, em 2023, comparado a 2022, transformando-se na maior causa das mortes de policiais no Brasil. Os policiais militares brasileiros morreram mais por suicídio do que por confrontos na folga ou em serviço.

Estudo revela que suicídios entre policiais superam mortes em confrontos/Foto: Bruno Santos- Folhapress

Na obra clássica “O Suicídio” (1897), um dos pilares no campo da sociologia, o sociólogo Francês Èmile Durkheim (1858-1917) define o suicídio como “todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”.

O suicídio é uma questão social que varia na razão inversa ao grau de interação social dos indivíduos com a sociedade. O elemento central é a coesão social, ou seja, quanto maior a coesão social menor a taxa de suicídio numa sociedade. Assim, o aumento do suicídio entre os policiais é multideterminado e depende de uma série de fatores.

Os dados do Ministério da Justiça registraram mais de 6,3 mil mortes por ação de policiais no Brasil, entre janeiro e dezembro de 2023, em média, foram 17 casos por dia. Em 2023, considerando apenas a Polícia Militar, o total de suicídios superou a soma de mortes de PMs por confrontos, 46, em serviço ou na folga, 61, totalizando 107 óbitos.

 Foto: Divulgação/Ilustrativa – Governo do Estado de São Paulo

Para Marina Bazon (2024), “[…] essa violência extrema e banalizada, em um contexto de profundas desigualdades sociais, tem impacto no psicológico dos servidores de segurança pública”. Isto é, quanto maior a violência maior a taxa de suicídio na sociedade – inclusive entre os policiais, devido as péssimas condições de trabalho e as contradições sociais.

Em Durkheim, cada sociedade está predisposta a permitir um contingente determinado de mortes voluntárias, interessando à sociologia a análise do processo social, dos fatores sociais que agem não sobre os indivíduos isolados, mas sobre o grupo ou o conjunto da sociedade. Assim, toda sociedade possui, a cada momento histórico, uma atitude definida em relação ao suicídio.

Na etimologia de Durkheim há três tipos de suicídio: a) Suicídio Egoísta: o ego individual se impõe face ao ego social, ou seja, há uma individualização desmesurada. Assim, as relações entre os indivíduos e a sociedade se afrouxam, e ele não vê mais sentido na vida ou razão para viver; b) Suicídio Altruísta: quando o indivíduo sente-se no dever de fazê-lo para se livrar de uma vida insuportável. O ego não o pertence, confunde-se com outra coisa que se situa fora de si mesmo, isto é, em um dos grupos a que o indivíduo pertence – p.ex. os kamikazes japoneses, os muçulmanos da Al-Qaeda; c) Suicídio Anômico: ocorre em uma situação de anomia social, ou seja, quando há a fragmentação de regras na sociedade, gerando o caos ou uma anormalidade social – p.ex. em crise econômica, a perda brusca de riquezas e poder por indivíduos, aumenta os índices desse suicídio na sociedade.

No caso de suicídio de policiais, os dados apontam para a existência de uma série problemas estruturais de ordem psicossocial nas instituições de segurança pública no Brasil, e que o Estado brasileiro falha na formação profissional e na preservação da saúde mental e proteção da vida dos policiais.

 

Coluna Perspectiva por Arnaldo Eugênio – Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio; Cientista Social – Doutor em Antropologia – Mestre em Políticas Públicas – Especialista em Segurança Pública – Consultor do Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos (CEEDH-PI)