Para além de uma visão simplista e moralista, esta abordagem sociológica sobre quem é de “contatinhos” busca elaborar análises próximas ao cotidiano, no intuito de revelar que se trata de um típico vampiro emocional ou vampiro energético. A gíria “contatinho” surgiu na década de 2010 num vocabulário próprio da web. Na crendice popular é uma pessoa ou entidade que vibra em alimentar-se da “energia vital” de outras criaturas vivas (Monica Hesse, 2008).
Segundo Zygmunt Bauman (2004), em “Amor Líquido”, até mesmo a empatia está sendo algo pouco comum na “sociedade líquida” de extrema descartabilidade. Como não existe razão para caminhar à empatia, logo não há o menor objetivo em firmar um afeto que seja parecido com o parentesco. Ou seja, não há interesse de fixidez nas relações, que se desenrolam com aquilo que já se tem, não com aquilo que ambos estão a fim de ter: por exemplo, não se arriscam a amar sinceramente (se entregarem).
Para o psicólogo clínico Albert Bernstein (2002), a expressão “vampiro emocional” descreve quem sofre de uma série de distúrbios de personalidade, muitas vezes visto como alguém fútil que sorve a energia emocional dos outros. O “vampirismo psíquico está representado nas crenças ocultistas de várias culturas e na ficção”. Porém, não existe qualquer reconhecimento médico ou consenso científico que ateste o fenômeno (Brian Frost,1989).
Os típicos vampiros emocionais são pessoas perversas e manipuladoras, que envolvem, simultaneamente, vários “contatinhos” numa teia de fingimentos, traições, ego, leviandades, toxicidades, ganância, promiscuidade, futilidades, mentiras e triângulos (e até quartetos) amorosos, cujo fim último é explorar e brincar com os sentimentos alheios, para satisfazer o impulso egoico e predatório.
Hoje, os que são de contatinhos “caçam” as suas múltiplas presas “nas redes sociais, cuja aproximação e afastamento dependem unicamente de um” (Zygmunt Bauman, 2004). Ou seja, do “predador de contatinhos”, pois visa apenas a ganância em prol do benefício próprio. Assim, a figura do “contatinho” se resume a uma relação passageira, efêmera, casual, sem rumo e oportunista numa situação espontânea, tola e vazia.
Diferentemente do “crush”, por quem a pessoa nutre um sentimento mais intenso, o “contatinho” é alguém usado apenas para servir de diversão em joguinhos de sentimentos pelo vampiro emocional, sem compromisso, sem amor nem responsabilidade afetiva. Desse modo, quem é de “contatinhos” (ou o aventureiro), por imaturidade, não mede as consequências da dor que causa em outrem, para saciar o ego e ofuscar os distúrbios de rejeição, o abandono, o ciúme e a falta de amor-próprio.
O termo “vampiro energético” é também usado metaforicamente para descrever pessoas cuja influência deixa os outros com uma sensação de exaustão, com dificuldades de concentração ou em depressão, sem que o fenômeno seja atribuído a qualquer tipo de interferência psíquica (Judith Orloff, 2008; Peggy O’Farrell, 2004).
Nesse sentido, para quem é de “contatinhos” substitui os valores morais e éticos por etiquetas de preço, vícios e vaidades. Em geral, têm problemas com a autoestima, o medo da solidão, a rejeição, a inveja e os distúrbios de personalidade, que podem ser ajustados por um profundo processo de cura, para buscar um equilíbrio da mente e dos campos energéticos do próprio corpo.
Coluna Perspectiva por Arnaldo Eugênio – Doutor em Antropologia
Arnaldo Eugênio; Cientista Social – Doutor em Antropologia – Mestre em Políticas Públicas – Especialista em Segurança Pública – Consultor do Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos (CEEDH-PI)