A crise no mercado de arroz, desencadeada por um leilão polêmico que gerou demissões no governo, ainda é tema central nas discussões do setor. Embora tenha sido firmado um acordo entre o governo e os produtores para estabilizar os preços e garantir a oferta do cereal, a administração federal continua atenta à possibilidade de adquirir mais arroz para controlar o mercado.
Nesta semana, a Câmara dos Deputados aprovou uma Medida Provisória que destina R$ 516 milhões para a formação de estoques de arroz, com R$ 416 milhões alocados para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A medida surge em um momento crítico, em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem cobrado ações do Ministério da Agricultura para conter a alta dos preços.
Apesar das iniciativas do governo, o gerente de Produtos Agropecuários da Conab, Sérgio dos Santos, acredita que o mercado está se comportando de forma estável, sem grandes oscilações nos preços pagos aos produtores. Ele destaca que, mesmo com um possível aumento, a tendência é que os preços se mantenham próximos aos patamares atuais, em sintonia com o mercado global, onde a Tailândia desempenha um papel importante na formação dos valores.
Os preços do arroz no Brasil chegaram 2024 em alta, com a saca sendo vendida em torno de R$ 130. Problemas climáticos no Rio Grande do Sul contribuíram para um aumento nos preços ao consumidor, com os supermercados reajustando antecipadamente os valores nas prateleiras.
No contexto global, o Brasil ocupa a 83ª posição num ranking de preços do arroz que inclui 96 países. Mesmo com a alta interna, o arroz brasileiro continua mais barato do que em países como Tailândia, Argentina e México. Nos Estados Unidos, o preço do quilo de arroz é de US$ 4,56, enquanto no Brasil o mesmo quilo custa US$ 1,14.
Henrique Dornelles, presidente da Câmara Setorial do Arroz, reforça que, mesmo com a alta, o arroz brasileiro ainda é acessível em comparação com o mercado internacional, o que indica uma vantagem competitiva para o consumidor local.
A safra 2023/2024 de arroz no Brasil teve um crescimento de 5,6%, atingindo 10,589 milhões de toneladas. A área cultivada também aumentou 8,6%, totalizando 1,6 milhão de hectares. Para a safra seguinte, espera-se um novo incremento, especialmente no Rio Grande do Sul, maior produtor do país.
Em termos de exportação, o Brasil já invejou 700 milhões de toneladas de arroz ao exterior em 2024, acompanhando o ritmo dos 2 milhões de toneladas exportadas em 2022 e dos 1,8 milhão em 2023. A crescente demanda internacional, especialmente na África, tem garantido um mercado externo robusto para o excedente da produção brasileira.
No início do ano, diante das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, o governo federal decidiu realizar um leilão para importar arroz, justificando a medida como uma forma de prevenir uma possível escassez e estabilizar os preços. Contudo, o setor produtivo do estado garantiu que não faltaria arroz no mercado interno, mesmo com os desafios logísticos enfrentados.
O leilão, que previa a compra de 263 mil toneladas de arroz, acabou sendo cancelado após surgirem suspeitas de irregularidades. Apesar das inundações terem causado uma perda de 300 mil toneladas na safra gaúcha, a produção total do estado se manteve próxima dos sete milhões de toneladas, semelhante à safra anterior.
Para Alexandre Velho, presidente da Federarroz, os números apresentados confirmam que não há risco de desabastecimento de arroz no Brasil, fortalecendo a posição do setor contra a necessidade de importação do produto.
Essa matéria destaca as ações do governo para enfrentar a crise do arroz, abordando desde o investimento na formação de estoques até as dinâmicas do mercado internacional e as controvérsias em torno do leilão.
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