Teresina sexta-feira, 15 novembro, 2024

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Brincar com armas de gel; por Arnaldo Eugênio Doutor em Antropologia

Foto; Reprodução

A violência se faz presente na experiência cotidiana e no imaginário de muitos grupos sociais na sociedade brasileira, se expressando de diversas formas. Recentemente, surgiu no país uma “brincadeira agressiva” com armas de gel, que virou mania entre os jovens (principalmente RJ, MG, AM, DF, SP), tendendo a se alastrar como um modismo juvenil para atiçar a adrenalina.

A “brincadeira” ocorre através de disputas ao estilo do “paintball” e do “airsoft”, esportes de tiro recreativo. Ela, não se realiza em ambientes fechados, mas ao ar livre e sem equipamentos de proteção, o que gera preocupação. Os grupos juvenis se enfrentam portando simulacros de arma com munição de gel e os confrontos são divulgados nas redes sociais, podendo atrair mais adeptos.

No Brasil, a violência é estrutural – uma forma de violência em que alguma estrutura social ou instituição social pode prejudicar as pessoas, impedindo-as de atender às suas necessidades básicas (Johan Galtung, 1969) – se manifesta, também, nas práticas e ações no processo socioeducativo juvenil. Na “brincadeira” (ou “guerras”) com armas de gel, os grupos de adolescentes andam com os simulacros em punho e vestidos com roupas em tom escuro, alguns a pé e outros em motocicletas, em bandos.

Como numa cena do “espetáculo da violência”, os grupos de jovens saem às ruas desfilando com “armas falsas” em punho, reproduzindo imageticamente a noção de violência que é comumente relacionada à sua faceta mais visível, a das cenas dos crimes urbanos e assaltos, amplamente exploradas, difundidas e exibidas pelos programas policialescos.

Foto; Reprodução

Porém, o “brincar com armas de gel” suscitam muitas preocupações, pois as armas e os projéteis (até granadas com gel) são produtos amplamente vendidos por meio dos principais sites de venda e marketplace do Brasil. Tratam-se de armas elétricas de origem chinesa, com modelos que imitam exemplares de alto calibre, como a AK-47 e rifles.

A suposta “brincadeira com arma de bolinhas de gel” – que precisam ser colocada na água por até 3 horas para inchar e ganhar o tamanho adequado – tem transformado áreas públicas em campos de batalha, aparentemente inofensivos. Mas, ela pode estimular comportamentos violentos inspirados em jogos de competição – p.ex. videogames, airsoft, paintball, guerras virtuais etc.

Nesse sentido, “brincar com armas de gel”, em um país onde a violência faz parte da experiência cotidiana e está no imaginário da sociedade, e que pode causar um dano, não são brinquedos. Até porque podem ser usadas em assaltos e roubos se passando por armas de fogo.

Longe de uma visão proibicionista, esse tipo de prática social juvenil, por já está em uso, e se caracterizar como uma desordem pública, pode e deverá ser, legalmente regulamentada, com uma modalidade eficiente de controle social e de fiscalização estatal. Para se prevenir um processo de “briga de galera”, como os de turmas e os de grupos marcando confrontos na rua pelas redes sociais – p.ex. as torcidas organizadas.

Essa “diversão juvenil” – “brincar com armas de gel”, consideras “armas de brinquedo” – pode aumentar a sensação de insegurança pública e desencadear conflitos com as forças de segurança, onde são frequentes os episódios de arrastões, principalmente à noite na rua.

Portanto, esse tipo de atividade juvenil de “brincar com armas de gel” pode instigar nos seus praticantes uma gama de comportamentos criminosos e intimidatórios, além de ações delituosas. É um tipo de “diversão anômala” muito perigosa porque faz um apelo as armas numa espécie de “videogame da vida real” no espaço público. Trata-se de uma “brincadeira” dentro de um conjunto de outras “brincadeiras” que são violentas.

Coluna Perspectiva por Arnaldo Eugênio – Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio

Cientista Social – Doutor em Antropologia – Mestre em Políticas Públicas – Especialista em Segurança Pública – Consultor do Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos (CEEDH-PI)