Um dia ou outro já fomos ou seremos vítimas do ato atroz de “gente errante” – sendo homens ou mulheres enganadores, covardes, manipuladores, falsários, caluniadores, traidores –, que cultua a mentira e a trapaça como modo de vida e meio de ascender nas relações interpessoais. São alpinistas sociais, sem caráter ou com um mau caráter, que se servem em dilapidar os sentimentos com joguinhos emocionais e expropriar os bens de outrem, fazendo-os de bobos a seu bel prazer dinherista-materialista.
Contudo, entre a pessoa que é feita de bobo e a pessoa mentirosa existem hiatos e comportamentos sociais que os diferenciam e nos ajuda a enxergar a si e se diferenciar entre um e o outro. Ser feito de bobo nos causa uma sensação ruim, mas até saber lidar com os vícios de atitudes, de manipulações e as chantagens da pessoa mentirosa: se livrar de uma pessoa ardilosa não é sorte nem perda, mas um livramento imensurável.
Toda pessoa mentirosa tem um temperamento difícil, como autodefesa; “amiga” nem de si mesma e se autojulga como expert, mas é rasa e insegura; uma pessoa medrosa, egoica e obsessiva. Trata-se de um ser humano paranoico, fingidor e ingrato, desequilibrado nas finanças e instável emocionalmente, que insiste em burlar os outros, sempre se vendendo como irresistível, leal, amável, sincero, íntegro, decente e confiável.
Aqui, o “bobo” não é um elogio nem descrito como besta ou sinônimo de tolice, idiotice ou de fraqueza, mas alguém bondoso que age com lisura e sem maldade. O “bobo” tem escrúpulos e luz própria; o mentiroso faz do outro uma escada para ser notado; o bobo é verdadeiro e o mentiroso é aventureiro. O bobo se realiza nos prazeres da vida, o mentiroso finda nos prazeres mundanos.
Toda pessoa mentirosa é um tolo mensageiro de enganos e de falsidades, cujo orgulho desmedido não permite enxergar a si mesmo nem a própria hipocrisia; se joga no mundo pelo “apontar o dedo”, no “clube da fofoca”, no “achismo”, na “vingança pessoal”, no “disse-me-disse”, no “papo etílico de mesa de bar” e no “eu ouvi falar”, para propagar e generalizar um julgamento leviano, no intuito de se autopromover pilhando o bom caráter e o bolso alheio.
Todo bobo se diverte com a Corte, na qual o mentiroso é um rei nu. Ele cuida da emoção, o mentiroso falseia tudo com manipulação, se afogando em aparências e excesso de vaidade. Aquele não cria expectativas sobre ninguém, mas a pessoa mentirosa sempre tem expectativas sobre algo de alguém. O bobo trabalha na luz e o mentiroso nas sombras, por isso, o brilho do bobo incomoda o ego inflado do mentiroso.
Toda pessoa mentirosa vive na cobiça e no deslude – “viver de ilusões” –, tanto ludibria quanto é ludibriada, pois é viciada em mentir, esconder e enganar. O bobo até pode “mentir”, mas enxerga valores positivos no outro. Já a pessoa mentirosa é vil, enganosa e promíscua, vivendo de relacionamentos fúteis como forma de tirar vantagens materiais para si: um vampiro emocional ou energético.
Aquele que se deixa fazer de bobo é lúcido e estabelece relações honestas e profundas. A pessoa mentirosa prefere contatos desonestos, rasos e escusos. Todo bobo é justo, grato e consciente, enquanto a pessoa mentirosa é falsa, mau caráter, conveniente e inconsequente.
Portanto, ser visto ou tido como um “bobo” é mais por inveja a pureza e a sinceridade que transmite, pois todo mentiroso é emocionalmente imaturo, infantilizado e caótico, com aversão a empatia. Na espiritualidade ou na magia, o bobo é encantamento, mas o mentiroso é livramento – do caos, da falsidade, do mal, da traição, do ruim e do precipício. Para todo mentiroso, a verdade é um antídoto infalível, fazendo se jogar na posição de vítima e do autoengano.
Coluna Perspectiva por Arnaldo Eugênio – Doutor em Antropologia
Arnaldo Eugênio; Cientista Social – Doutor em Antropologia – Mestre em Políticas Públicas – Especialista em Segurança Pública – Consultor do Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos (CEEDH-PI)