Teresina quinta-feira, 26 dezembro, 2024

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A violência na escola: Uma análise por Arnaldo Eugênio, Doutor em Antropologia

Coluna Perspectiva por Arnaldo Eugênio, doutor em Antropologia/Foto: Reprodução – Arquivo Pessoal

No Brasil, a violência no cotidiano das escolas, principalmente da rede públicas, é uma realidade nos dias atuais, onde deixam de ser vistas como um lugar de socialização secundária para serem postas como um “lugar de risco” para muitas comunidades. Porém, a violência no contexto escolar não é um fenômeno social recente, manifestando-se com as características e peculiaridades de cada tempo e lugar.

A violência na escola, enquanto um fenômeno social complexo, tem sido percebida nas dimensões física, moral e simbólica, que perpassam as relações interpessoais, sendo um empecilho para o desenvolvimento de uma educação de qualidade na perspectiva da paz, da não-violência e dos direitos humanos.

A violência na escola é percebia nas dimensões física, moral e simbólica /Foto: Reprodução – Lunetas 

De acordo com a natureza, as violências no contexto escolar possuem diferentes denominações: 1) violência na escola, estabelecida nas relações sociais dentro desse espaço; 2) violência da escola, que é a violência simbólica estabelecida por meio de exclusão, discriminação e dominação pelo uso de poder; e a 3) violência contra a escola, que se dá pela desvalorização social da instituição escolar e da carreira docente (Ristum, 2010).

Nesse contexto, pode-se definir a violência escolar como todo ato ou ação violenta, comportamentos agressivos, danos ao patrimônio, atos criminosos, marginalizações, discriminações, dentre outros praticados entre membros da comunidade (profissionais da educação, alunos e familiares) no ambiente escolar. (Priotto,2009).

A violência segue um fluxo que reflete de fora para dentro da escola/Foto: Reprodução

Nas últimas décadas, o aumento da violência urbana se deslocou de fora para dentro da escola, principalmente devido a flexibilização das armas de fogo, o aumento do uso de drogas e as disputas por territórios entre facções, que afetam, negativamente, a rotina do entorno e a dinâmica do ambiente escolar.

Em sendo um fenômeno social complexo e multifacetado, a violência na escola se manifesta nas formas verbal, simbólica e física. Além disso, muitas ocorrências intraescolares entre jovens têm relação com a violência intra e extrafamiliar. A violência na juventude se constitui em grave problema de saúde pública, que pode ser observado em todos os contextos de inserção – seja em famílias ou instituições (Braga & Dell’Aglio, 2012).

Foto: Reprodução – Getty Images

Para Bourdieu (1989), a violência simbólica “são aqueles atos de coerção, constrangimento e opressão dirigidos à honra, à dignidade e ao reconhecimento da pessoa”. No âmbito da escola, ela se manifesta por meio da própria instituição constituída para educar e proteger os adolescentes, se transformando num espaço de violação de seus direitos (Fonseca, Sena, Santos, Dias, & Costa, 2013), negando a cidadania a quem deviam promover, por meio do uso de preconceitos, maus-tratos, estereótipos, injustiças, discriminações e abuso de poder.

Assim, tanto os discursos de ódio, os abusos nas relações interpessoais, as diferenças geracionais e os vídeos que enaltecem as ameaças entre os jovens, quanto as violências simbólicas e psicológicas contra os alunos devem ser focalizadas no contexto da violência escolar (Abramovay, 2002). Bem como, a vitimização dos professores neste ambiente (Souza, 2012; Rocha & cols., 2012), tanto direta quanto indiretamente.

O enfrentamento da violência, dentro e fora da escola, é dever do Estado e responsabilidade de todos. Pois, as suas consequências são profundas, para além das vítimas e dos familiares, pois trata-se de um fenômeno social que impacta no desenvolvimento e no futuro do país. Ou seja, quanto mais violenta for uma sociedade, tanto menor será o seu nível de desenvolvimento socioeconômico.

 

Coluna Perspectiva por Arnaldo Eugênio – Doutor em Antropologia

Arnaldo Eugênio; Cientista Social – Doutor em Antropologia – Mestre em Políticas Públicas – Especialista em Segurança Pública – Consultor do Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos (CEEDH-PI)